Nome do latim: tardus (lento) + gradus (passo)
Uma ida ao espaço é sempre motivo de atenção na mídia, principalmente no último vôo de um ônibus espacial. Em maio de 2011, o último vôo do Endeavour levou várias pesquisas para se realizar no espaço, uma delas envolvia os Tardigrada¹. Há um bom motivo para tal, os Tardigrada são animais com capacidades de resistência impressionante. Eles sobrevivem a temperaturas muito próximas ao zero absoluto, como também altíssimas temperaturas e grandes pressões. Esta capacidade chamada de Criptobiose faz com que sua resistência seja única entre os animais. Mas o principal fator que o faz importante em pesquisas científicas é que sua criptobiose o faz sobreviver ao vácuo espacial tal qual o seu ovo. Ele “desliga” seu metabolismo e desidrata de forma a suportar condições totalemente contrárias à vida como conhecemos
Figura 1 - Ilustração dos Tardigrada no espaço
A resistência é feita retraindo suas pernas, perdendo água para fora e secretando um envelope de dupla cutícula sobre o corpo desidratado. Seu estado dormente resiste à temperaturas de 149ºC a -272ºC. Resiste também à substâncias tóxicas (salmoura, éter, álcool liquido), vácuo, radiações ultravioletas e ausência de oxigênio. Sua anabiose (dormência do metabolismo) pode superar limites imagináveis; faz por exemplo uma espécie da Groelândia, Halobiotus crispae, ter várias “conformações” para diferentes épocas, como um modo de sobreviver às estações secas, chuvosas, frias e quentes, de maneira distinta. O estado criptobiótico é denominado tonel (por parecer pequenos barris) e é facilmente transportado. Eles entram nesse estado quando o fio de água do seu ambiente seca.
Figura 2 - As 4 formas do Halobiotus crispae
A etimologia do seu nome remete à sua lentidão em andar. São normalmente apelidados de “ursinhos d´água” pela aparência parecida com ursos; seu “carisma” visual também atrai interesses importantes.
Um dos fatos ainda mais surpreendente a respeito dos Tardigarda é que eles são muito comuns. Talvez explicado pelo seu tamanho pequeno e seu leve, mas resistente ovo ser transposto facilmente à grandes distâncias. Seu tamanho reduzido não impedem no entanto sua ampla distribuição. Em uma análise em um microscópio da água de qualquer lugar, é possível, com um pouco de sorte, achar um Tardigrada. Sua densidade média em musgos são aproximadamente 2 milhões por metro quadrado. Eles são animais muito pequenos, os maiores adultos medem 1,5 mm (Microbiotus) e os menores alcançam 0,05 mm. Água de poços, zona intersticial, lagos e riachos são lugares muito propícios a acharem Tardigarda, assim como sobre os musgos, mas seu tamanho diminuto os faz passar muitas vezes “despercebido”. Mais de mil espécies já foram descritas mesmo alguns autores acharem que este é um número subestimado².
Figura 3 - Tardigrada sobre o Musgo
Os Tardigrada são incluídos no grupo Panarthropoda por possuírem características como apêndices articulados dispostos em 4 pares de pernas com garras. Eles possuem ecdise marcante e cérebro tripartido, reforçando sua posição em Ecdysozoa. Em Panarthropoda, sua situação está definida pela presença de estilete, órgão perfurador que permite perfurar caules e se alimentar da seiva. Eles também possuem musculatura complexa e túbulos de Malpighi.
Seu pequeno tamanho também aponta que ele sofreu várias regressões. O tamanho reduzido inutiliza sistemas como circulatório e respiratório por ser a difusão o principal agente dissipador. O principal indicador é a ausência de um coração, uma simplesiomorfia presente desde Bilateria.
Há presença de sexos separados e a fecundação é interna, sendo os ovos depositados muitas vezes na exúvia da fêmea com desenvolvimento direto. São achados animais de cores diversas desde transparente até roxo. Sua fossilização é rara, mas há indícios de sua presença em Âmbar do Cretáceo.
Figura 4 - Ovos na exúvia
Muitos dos tecidos em Tardigrada são Eutélicos, ou seja, tem um número limitado e determinado de células sendo seu crescimento delimitado geneticamente. O crescimento ocorre com aumento do tamanho celular mesmo a mitose sendo raramente observada em adultos. A nutrição da maioria é de conteúdo citoplasmático vegetal embora alguns sejam predadores. A perfuração das plantas é feita usando seus estiletes característicos. Para a excreção são usados muitas vezes os túbulos de Malpighi. Os ovos podem ser depositados dentro das exúvias velhas, mas se a condição for muito adversa eles podem entrar em um duradouro estado de criptobiose.
Figura 5 - Visão Lateral feito por Varredura
Suas pernas são extremamente curtas e ocas. Mas elas são mais articuladas que os lobopódios dos onicóforos; principalemnte pelo fato de terem musculatura intrínseca. Sua musculatura envolve músculos lisos e estriados, diferentemente de anelídeos e aproximando mais da hipótese Panarthropoda do que da hipótese Articulata. É consenso de alguns autores aceitar uma cefalização em Tardigrada. Seu interior tem celoma reduzido, seguindo uma simplesiomorfia que tem seu melhor representante nos Hexapoda. Suas garras servem para fixá-los no substrato, como em algas, musgos e superfícieis sólidas à flor da camada de água.
Figura 6 - Visão do Heterotardigrada Echiniscus granulatus
Há três grupos em Tardigrada. Um deles o Heterotardigrada é composto de organismos armados, com projeções e sem glândulas de Malpighi. O outro grande grupo é o Eutardigrada que não apresenta projeções, mas apresenta glândulas de Malpighi. O outro grupo, Mesotardigrada, só apresenta um único gênero que foi achado exclusivamente em uma fonte termal japonesa que curiosamente foi soterrada por um terremoto. Embora haja consenso do monofiletismo do grupo, sua relação com os outros táxons foi muito discutida. Acredita-se na sua relação com artrópodes mais evidentemente do que com os cicloneurálios, mesmo estas duas hipóteses possam ser suportadas por dados moleculares. Alguns fósseis do Cambriano apresentam muita relação estrutural com os Tardigrada e Onicophora ligando estes grupos às formas atuais de artrópodes apresentando apêndices moles com garras terminais, sendo uma linhagem basal dos artrópodes.
Figura 7 - Ilustração de um Tardigrada ventralmente
Referências
1 - NASA Staff (2011-05-17).
http://www.nasa.gov/mission_pages/station/research/experiments/BIOKIS.html
2 - http://www.tardigrada.net/tardigrades.htm
3- http://www.tardigrada.net/tardigrades.htm
Figura 1 - http://faunamicroscopica.blogspot.com.br/2011/05/tardigrados.html
Figura 2 - http://www.diagonale-groenland.asso.fr/greenland_tardigrada.htm
Figura 3 - http://www.imagegossips.com/2011/01/tardigrada-pictures/
Figura 4 - http://aquaflash.blogspot.com.br/2009/03/28-microcosmos-en-el-acuario.html
Figura 5 - http://faunamicroscopica.blogspot.com.br/2011/05/tardigrados.html
Figura 6 - http://www.sciencephoto.com/media/151927/enlarge
Figura 7 - http://www.eoearth.org/article/Tardigrada